Muito se fala sobre Depressão Pós-Parto e muito se tem avançado na ajuda profissional para as mães e famílias que passam por esta situação. Apesar de tudo na minha prática clínica, tenho sentido que muita atenção se dá ao bebé e aos seus cuidados e muito se descuram os adultos. Afinal de contas, mãe e pai têm de estar bem para cuidar ainda melhor do seu filho/a!
Mitos sobre a DPP
A Depressão Pós-Parto é uma patologia mental, não é (só) culpa das hormonas e não é transitória como o Baby-Blues. A DPP também não é histerismo e insegurança da mãe recente.
A DPP pode ser incapacitante e prejudicar gravemente a vinculação mãe-bebé, os cuidados adequados ao bebé e prejudicar a saúde física e mental das mães. Os seus sinais não devem de todo ser descurados. Poderemos deste modo fazer a diferença na vida de muitas famílias.
Sabia que….
Estima-se que prevalência da DPP em Portugal seja de 13,7% após o terceiro mês de nascimento do bebé?
Surge entre o 1º e o 3º mês após o parto e prolonga-se em média por 6 meses?
É uma condição clínica que se desenvolve na sequência das alterações emocionais, físicas, psicológicas e familiares aquando do nascimento de um bebé.
Não é a única a passar por isto. Procure ajuda. Por si, pelo seu bebé e pela sua família.
Quem pode sofrer de DPP?
Virtualmente qualquer mulher. No entanto há fatores de risco associados como:
- história de depressão anterior,
- fraca rede de suporte,
- dificuldades ao nível relacional com companheiro e bebé,
- fatores stressantes durante a gravidez/pós-parto
Quais os sinais aos quais devemos estar atentos?
São variados e nem sempre óbvios. Os mais óbvios de todos são a privação de sono e o cansaço generalizado dos pais. Noutro artigo já falei sobre a importância de se investigar as dificuldades de sono do bebé. Podem consultar aqui.
Os sintomas podem ser:
- Choro fácil
- Sentimentos de incapacidade
- Sentimento de não ser boa mãe
- Apatia generalizada
- Irritabilidade
- Sentimentos de vergonha e culpa
- Dificuldade de relacionamento com o bebé
- Afastamento de família e amigos
- Redução de interesse em atividades que lhe davam prazer
- Ansiedade/ataques de pânico
- Diminuição de capacidade de concentração/tomar decisões com clareza
- Insónias, perda de apetite ou contrário
- Fadiga/perda de energia
- Pensamentos de morte/suicídio
Como ajudar?
Sem dúvida que o primeiro passo é conversar com o seu profissional de saúde ou mesmo pediatra da criança. Esse profissional poderá depois fazer os devidos encaminhamentos para as especialidades.
Deixo aqui algumas estratégias de sobrevivência para mães (e pais!):
- Não ignore os primeiros sinais!
- Não queira ser a super-mulher
- Procure sempre ajuda profissional (médico, enfermeiro, psicólogo)
- Fale com alguém de confiança
- Comunique com o seu parceiro, ajude-o a compreender o que se passa consigo
- Procure apoio dentro e fora de casa (familiares próximos e amigos)
- Saia de casa
- Conviva com outras mães ou junte-se a um grupo numa rede social
- Considere a possibilidade de tratamento psiquiátrico em caso de agravamento de sintomas
Para finalizar algumas notas finais…
Porque ter um bebé é mais do que uma condição física de gerar outra vida e parir. Envolve todo um processo biopsicossocial que para algumas mulheres pode ser mais complicado de viver.
Uso com frequência a expressão “é preciso uma aldeia para educar uma criança.” E questiono muitas vezes os pais: onde está a vossa aldeia? Sem dúvida que o suporte social e familiar fazem toda a diferença para ajudar a ultrapassar estas situações. Rodeiem-se de pessoas que vos façam sentir bem e seguras neste vosso novo papel.
Faço o apelo a todas as famílias que não ignorem os sinais de mal-estar e peçam ajuda. Pode fazer toda a diferença. Não vale a pena sofrer em silêncio. Vamos vencer os preconceitos relativos à depressão pós-parto e ajudar famílias.